Jornal Evangélico Luterano

Ano 2018 | número 821

Sexta-feira, 29 de Março de 2024

Porto Alegre / RS - 09:26

Unidade

Eu sou o SENHOR, teu Deus

Culto de Libertação, Retiro de Cura e Libertação, Desafio da Libertação, Libertação Espiritual, Cura e Libertação da Alma, Campanha Libertação e Quebra da Maldição, Batalha Espiritual e Libertação, Terço da Libertação, Proclamar Libertação... Quanto anúncio de libertação!

Sem dúvida, a palavra ‘libertação’ faz parte do vocabulário religioso atual. De alguma maneira, tornou-se um jargão, um modismo. Cada qual preenche essa palavra com um conteúdo que lhe convém ou, então, destaca algum elemento capaz de ser mais chamativo, dependendo do contexto e da situação vivencial.

Libertar do quê?

Ao se falar em libertação, vem a pergunta pela razão de ser dessa palavra: libertar de doenças, libertar do sofrimento, libertar da pobreza, libertar das ‘amarras’ do diabo, libertar da escravidão financeira, libertar da prisão, libertar da violência doméstica, libertar de amarras institucionais, libertar de caminhos espirituais errôneos, libertar de inumeráveis pecados, libertar do consumismo desenfreado...

Libertação indica para alguma situação contrária ao que afirma. Falar em libertação é apontar para situações de aprisionamento e opressão. Esse aprisionamento, é claro, pode envolver questões materiais, emocionais ou espirituais. São servidões circunstanciais que envolvem o nosso existir e viver e nem sempre nos damos conta delas.

No nosso dia a dia, quanta coisa nos aprisiona e oprime... O tempo, que parece ser pouco demais para fazer tudo o que desejamos. O dinheiro, insufi ciente para comprar o que gostaríamos de consumir. A vaidade, que nos encurrala a ponto de nem sabermos ao certo como nos apresentar. Enfim, a própria tecnologia nos aprisiona e limita o encontro face a face... De quanta coisa precisaríamos ser libertados e libertadas!

Precisamos estar alertas para que a liberdade não nos aprisione a coisas fúteis. Do contrário, nos tornamos pessoas escravizadas outra vez. Cristo nos libertou para sermos livres, aprisionadas a ele somente. Aí está a verdadeira liberdade!

Descuido com a Criação

A Criação divina também clama por socorro e libertação. Está aprisionada por interesses inescrupulosos e destruidores. Não é o zelo que predomina e move as ações. Entramos juntos nessa roda, com reações mínimas. Como abrir mão de tanta ‘coisa boa’, subproduto da natureza descuidada, maltratada, sofrendo e pedindo socorro?

A lógica de vida do nosso cotidiano é: quem não tem é estimulado a ter, enquanto quem tem quer ter mais e quem tem mais diz que nunca é sufi ciente. Isso inquieta e aprisiona... A ausência de limites nessa lógica do desejo traz sofrimento ao conjunto do nosso estar no mundo. Entretanto, há esperança... Sim, há esperança! Há muitos testemunhos de esperança em nosso Deus Libertador.

Desci para libertar

No Antigo Testamento, em Êxodo 3.7ss, Deus fala com Moisés, dizendo que: viu seu povo sendo maltratado, ouviu o pedido de socorro, sabe que está sofrendo, por isso desceu para libertá-lo e levá-lo a uma terra boa e rica. Deus vê, ouve, sabe, desce e conduz... É Deus libertador! Não abandona o seu povo nem deixa de ser misericordioso.

Moisés é o líder escolhido para estar à frente do povo. Estar à frente do caminho da liberdade traz receios. Afinal, é tão mais fácil permanecer seguro, aprisionado... Moisés tem esses receios, mas Deus lhe diz: Eu estarei com você (v. 12). Quer dizer, quando há decisão de fé pela libertação, Deus mesmo se torna o libertador. Deus mesmo conduz o andar na liberdade, fazendo de nós seus instrumentos.

Qual é a ‘terra’ boa e rica que buscamos? É a mesma oferecida pelo Deus libertador? Precisamos buscar por um novo jeito de habitar a terra! Um novo jeito de nos relacionarmos com o que nos cerca e com o nosso próprio Deus.

Profecias de libertação

Profetas e Profetisas também foram instrumentos do Deus libertador e denunciaram as falhas do povo – o povo tomava rumos distantes desse compassivo Deus. Assumiram a tarefa de apontar o pecado que aprisionava. Não foi sem medo, julgando-se incapazes. Jeremias disse: Ó Senhor, meu Deus, eu não sei como falar.... Ao que Deus diz: Não tenha medo de ninguém, pois eu estarei com você para protegê-lo. Sou eu, o Senhor, quem está falando (Jr 1.6-8).

A realidade dava medo. O mundo era perverso e continua dando medo, mas Deus também continua a nos encorajar para não desistirmos. Há tempo de fi car calado, mas também há tempo de falar. As nossas realidades, por mais que invoquem a Deus, parece que carecem dele. Há tanta falta de amor, falta de justiça, falta de paz. Há tantas necessidades, corrupção e perversidades. Quanta libertação de fato é necessária!

Jesus, o libertador

No Novo Testamento, Jesus corporiza os anseios por libertação. Ele vem para tornar realidade a esperança por uma nova vida. É reconhecido por alguns, mas, por outros, rejeitado. Para quem estava aprisionado a enfermidades e à miséria de vida, ele é o Libertador. Por quem se benefi ciava da opressão, é perseguido.

Jesus abrange o anseio pleno de libertação e de libertação plena. A sua pregação e a sua ação incluem libertação material ao saciar a fome e curar enfermidades físicas. Compreendem também libertação emocional e espiritual ao perdoar pecados e declarar que, pela fé, houve salvação. É a graça divina agindo. É o Deus Libertador revelando a sua compaixão e a sua misericórdia.

O evento pascal é o ponto auge de Jesus, libertador e libertado. Nada o faz desistir do caminho da cruz, da sua pregação e da sua ação. A sua ressurreição o libertou da própria morte e aponta para um horizonte maior de vida – a nossa esperança. Porque não prestamos atenção nas coisas que se veem. Pois o que pode ser visto dura apenas um pouco, mas o que não pode ser visto dura para sempre (2Co 4.18), ensina o Apóstolo Paulo.

Assim, podemos ter esperança em uma Criação reconciliada e redimida. Esperança em pessoas transformadas, novos sistemas de vida, um novo jeito de habitar a terra! Podemos crer no que não vemos. Deus tornará realidade. É a sua promessa!

A transformação integral impacta no mundo que nos cerca, nos nossos relacionamentos e nos nossos compromissos. Mais: nos liberta do consumismo, tão presente em nosso tempo, e nos torna cativos na preservação da Criação de Deus.

Libertação e liberdade

Correlacionadas são as palavras libertação e liberdade. São palavras de imenso valor para a nossa Fé Cristã e a nossa Confessionalidade Luterana. O Apóstolo Paulo orienta: Cristo nos libertou para que nós se jamos realmente livres, por isso continuem fi rmes como pessoas livres e não se tornem escravos novamente (Gl 5.1).

Sim, estar em liberdade nem sempre significa estar verdadeiramente livres. É justamente estando em liberdade que nos deixamos aprisionar... também em nosso pensamento, em nossas convicções, sejam políticas, econômicas, como também religiosas. É a partir da liberdade que experimentamos o que não deveríamos. Vamos além dos limites. Não é assim?

Como pessoas libertas, precisamos estar alertas para que a liberdade não nos aprisione a coisas vãs e fúteis. Do contrário, nos tornamos pessoas escravizadas outra vez. Cristo nos libertou para sermos verdadeiramente livres, ou melhor, aprisionadas a ele somente. Aí está a verdadeira liberdade! É meio contraditório, mas é assim mesmo...

Livres, mas cativos

É muito conhecida a palavra de Martim Lutero sempre de novo repetida: ‘A pessoa cristã é livre sobre todas as coisas e não está sujeita a ninguém. A pessoa cristã é uma serva prestativa em todas as coisas e está sujeita a todas’. É um binômio de contradição: livre, mas servo, a ninguém sujeito e liberto de tudo, mas submisso a Cristo – e dessa submissão decorre tudo o demais.

É essa a verdadeira liberdade e é essa a verdadeira libertação. A liberdade que vem de Cristo, do seu perdão, da reconciliação que promove, da conversão, da transformação, da vida nova, da salvação... A partir disso, passamos a ver além do que vemos. Além do que vemos, percebemos, então, um horizonte que nos move, que nos faz andar. A liberdade que vem de Cristo nos movimenta em direção a outras pessoas, que precisam da gente.

Disso tudo surgem atitudes de vida, compromissos de fé vivenciados no dia a dia. ‘Libertados por sua graça, nos dispomos a servir...’ diz a canção de um Pastor da nossa Igreja. O nosso Deus libertador nos quer comprometidos na transformação integral das vidas e não apenas material ou emocional ou espiritualmente. Quer transformação integral.

Cativos para servir

A transformação integral impacta no mundo que nos cerca e também nos nossos relacionamentos, nos nossos compromissos. Mais: nos liberta do consumismo, comportamento tão presente em nosso tempo e nos torna cativos na preservação da Criação de Deus. Cativos a Cristo, servimos ao nosso Deus libertador.

Desde o Batismo, somos chamados e chamadas a essa tarefa. Batismo é ação desse nosso Deus que perdoa, liberta, salva e anseia por nosso compromisso de fé. Diz o Catecismo Menor: ‘Realiza o perdão dos pecados, livra da morte e do diabo e dá a salvação eterna a todas as pessoas que creem no que dizem as palavras e promessas de Deus.

Há, pois, um mistério profundo que envolve o Batismo. Mistério que é graça pura! É graça cara – não é graça barata, por isso Batismo é chamado. Também é compromisso: ser Sacerdote e Sacerdotisa a anunciar a ação libertadora do nosso Deus e proclamar a palavra da libertação que custou a vida de Cristo.

Compreender esse chamado é o desafio. Pela fé, transformados por essa cara graça, podemos assumir o compromisso. Deus diz: Eu sou o Senhor, teu Deus!

P. Me. Claudir Burmann, Ministro na Paróquia de Massaranduba/SC 

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