Jornal Evangélico Luterano

Ano 2018 | número 817

Quinta-feira, 28 de Março de 2024

Porto Alegre / RS - 16:24

Unidade

Eu sou o SENHOR, teu Deus

É corrente que a família é o alicerce da sociedade, mas também que a família está em crise e até que é uma ‘instituição falida’.

Ao longo dos tempos, a família passou por muitas transformações, sejam sociais, políticas, econômicas e culturais. Da mesma forma, houve uma mudança no conceito da palavra, na história e na legislação brasileira, que modificaram o modelo de família até então considerado tradicional.

Este processo influenciou na compreensão da configuração familiar e das relações parentais, que passaram a ser baseadas no afeto e na busca por felicidade e não mais somente na consanguinidade. Surgiram, assim, outras formas de família, influenciando o Direito. Temos uma vasta gama de doutrinas, nas quais encontramos conceitos diversos para definir o que é a família.

Nas Sagradas Escrituras, conforme o relato da Criação (Gn 1-2), havia perfeita harmonia no Jardim do Éden e o convívio era de igualdade. No entanto, esta harmonia foi desfeita pelo ser humano. Ainda assim, o projeto de Deus não mudou. Muitas referências bíblicas nos trazem esta mensagem do desejo de Deus em resgatar a família ao seu propósito original.

No Jardim do Éden, havia harmonia, que foi desfeita pelo ser humano. Ainda assim, o projeto de Deus não mudou. Muitas referências bíblicas trazem a mensagem do desejo de Deus em resgatar a família ao seu propósito original.

No Sínodo Uruguai, foi editado um livro intitulado: E a família... Como Vai?, no qual são citadas algumas referências bíblicas que valorizam a união familiar, como:

- Quando anuncia o dilúvio, Deus chama Noé ‘e a sua família’ para que entrem na arca (Gn 6.8);

- A aliança que Deus faz com Abraão é que, a partir dele ‘e dos seus descendentes’, todas as famílias da terra serão abençoadas (Gn 12);

- Dos Dez Mandamentos recebidos por Moisés, quatro deles estão diretamente relacionados à família (Ex 20);

- Ao ingressar na terra prometida, Josué assume um compromisso solene e público ao dizer: Eu e minha casa serviremos ao Senhor! (Js 24.15);

- O Novo Testamento começa com uma genealogia que é a lista dos antepassados familiares do nosso Senhor Jesus Cristo, valorizando a família consanguínea (Mt 1);

- Jesus reafi rma o casamento como forma de convívio entre um homem e uma mulher e uma instituição na qual ambos podem encontrar segurança, continuidade e intimidade (Mt 19.3-6);

- A casa/família torna-se o centro de expansão, evangelização e de comunhão na Igreja Primitiva (At 2.46, 5.42 e 1Co 16.19).

Este é o projeto de Deus quanto à família.

Quanto à confessionalidade luterana, em vários escritos, o Reformador destaca a importância da família na formação de valores fundamentais para a espiritualidade e para o viver em sociedade. No contexto da sua época, em que havia a compreensão que o melhor caminho para agradar a Deus era ir para um mosteiro, em um dos seus livros sobre Assuntos Matrimoniais, Lutero escreve: ‘Para agradar a Deus, mais importante que ir para o mosteiro, é constituir família, ser bom pai, boa mãe e formar bons cidadãos, que o mundo tanto precisa’.

Outro conceito matrimonial e familiar importante é que marido e esposa se tornem amigos em Cristo - Freunde in Christus werden. Portanto, casamento e família são espaços para constituir cidadãos cristãos e cidadãs cristãs para o mundo. Sim, para o mundo, porque este é o alvo, pois o céu, dizia Lutero, já está assegurado por fé e graça a toda pessoa que nele crê.

Outra grande contribuição de Martim Lutero deu-se no empenho no que diz respeito à educação nas famílias e na esfera pública. Neste sentido, elaborou alguns escritos para as autoridades, colocando a necessidade de construir escolas, mas também escritos motivando e desafi ando os pais para instruir filhos e filhas. Como exemplo, temos o Catecismo Menor, escrito por Lutero para que filhos e filhas pudessem receber o ensino na verdadeira fé já no âmbito familiar.

A família e a Comunidade Cristã são campos experimentais daquilo que vai germinar e fazer crescer a semente de uma sociedade. O grande desafi o é: De que maneira viver o projeto do Reino de Deus como família?

Para Lutero, a família também era lugar para celebrar Cultos, transformando a família em um lar cristão, de modo a inspirar mudanças na sociedade e no mundo. Dessa forma, a família e a Comunidade Cristã são campos experimentais daquilo que vai germinar e fazer crescer a semente de uma sociedade que se empenha em viver o projeto do Reino de Deus. Encontramo-nos diante de um grande desafi o: De que maneira viver o projeto do Reino de Deus como família?

Deus criou a humanidade como seres relacionais. A família é o lugar e ambiente no qual todo relacionamento tem o seu início. É na família que aprendemos a conversar, a perceber a presença da outra pessoa, aprendemos a amar, a respeitar o próximo, enfim, aprendemos a nos relacionar com outras pessoas. No termo ‘relacionarse’, estão presentes o diálogo, a conversa, ou seja, o relacionamento verbal e também o relacionamento físico, qual seja, o perceber a outra pessoa, dar espaço, dividir uma carga, abrir uma porta, dar um aperto de mão, um abraço, etc.

Para que o convívio transcorra com relacionamento harmonioso, é necessário que haja amor. O amor torna as pessoas mais compreensivas, pacientes, acolhedoras e tolerantes diante das diferenças. Sim: tolerantes, pois é também na família que são feitas as primeiras experiências de problemas no relacionamento. Nestes momentos, o diálogo se faz imprescindível, pois é por meio do relacionamento verbal que se refazem os acordos estabelecidos naquela família, naquele grupo de convivência. O amor, mais uma vez, faz parte da condução do diálogo, orientando e guiando para a superação dos confl itos.

Homem e mulher, ao se unirem em matrimônio, assumem uma família baseada nas relações de amor e diálogo. No início, tudo é acolhido e relevado pela paixão. Porém, com o tempo, a paixão vai se enfraquecendo e o amor precisa ter forças para crescer e assumir o seu lugar. A paixão até sobrevive com pequenas atitudes, mas o amor só sobrevive com dedicação e diálogo constante, por isso é imprescindível que um casal aprenda a dialogar, antes mesmo de ter os seus filhos e as suas filhas, se quiserem formar uma família com harmonia. Neste diálogo, precisam chegar a um acordo sobre o que realmente é importante para a família e qual é o ideal desta família.

Outro dia, ouvi em uma dessas mensagens de Internet uma constatação muito interessante. Analisando como as famílias estabelecem as suas prioridades na vida, percebe-se que colocam as mais importantes por último. Por exemplo: a maior preocupação é com a questão fi nanceira. Depois, vem a preocupação com filhos e filhas. Em terceiro lugar, preocupam-se com o esposo, a esposa. Depois de tudo isso, lembram-se da fé

Ocorre que, para uma família viver em amor e harmonia, necessariamente ela precisa ter como prioridade uma vida de fé constante e diária. É a vida de fé que vai orientar o diálogo e fortalecer o amor nos relacionamentos, para que as dificuldades sejam superadas. Em segundo lugar, o pai e a mãe devem se manter unidos e com o mesmo ideal. Somente em terceiro lugar vem a preocupação com os filhos e as filhas.

Muitas pessoas se assustam com esta posição. No entanto, filhos e filhas somente terão a possibilidade de uma boa educação quando pai e mãe estiverem unidos em amor e firmes na fé que lhes dá um ideal de vida. Depois disso, vem a consequência: pessoas de bem consigo mesmas estarão de bem com a vida e terão melhores oportunidades de manter os seus negócios financeiros, os seus empregos, o seu sustento e o sustento de toda a sua família.

Busquemos em Deus a força do amor para educar filhos e filhas na construção de um mundo justo e harmonioso. Está posto um dos grandes desafi os para a vida matrimonial e familiar na atualidade: construir o alicerce da família a partir do diálogo e do amor, semeado e nutrido na fé.

O amor conjugal entre pai e mãe e o amor destes para com os seus filhos e as suas filhas se reverterá em amor dos filhos e das filhas para com o seu pai e a sua mãe. Este amor somente é possível se manter e crescer por meio do diálogo entre todos os membros da família.

À Comunidade, cabe o desafio de proporcionar espaços de encontro e diálogo familiar para exercitar o fortalecimento do projeto do Reino, expresso nas Sagradas Escrituras.

Pa. Clarise Ilaine Wagner Holzschuh, Ministra na Paróquia em Chapecó/SC 

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